segunda-feira, 6 de abril de 2015

DEBILIDADES E INCOERÊNCIAS NO DISCURSO PELA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO

Em 24 de março, o deputado federal Jean Wyllis, do PSOL-RJ, protocolou, na Câmara, o Projeto de Lei nº 882/2015 que pretende que a interrupção da gravidez possa ser realizada no Brasil, independentemente da motivação, nas doze primeiras semanas de gestação, tanto pelo SUS quanto pela rede privada. Na prática, o projeto visa legalizar o aborto no Brasil.
É importante discutir a legalização do aborto para além das situações já admitidas em lei (risco de vida da gestante e gravidez decorrente de estupro) e nos tribunais (fetos com má formação, como os anencéfalos). Recomenda-se que o debate sobre o tema procure evitar fundamentalismos e crenças exageradamente arraigadas e apaixonadas, priorizando-se uma visão laica e plural. Contudo, vale indagar se o comportamento irascível e sectário que observamos muitas vezes na mídia entre os detratores da legalização se restringe a estes. Vale também refletir se todos os argumentos contrários à legalização da prática são irracionais e desprovidos de fundamento científico, frutos apenas de posições arcaicas advindas de arrazoamentos religiosos ou da opressão de gênero exercida contra a mulher e a sua liberdade sexual.
Propõe-se aqui que diversos argumentos contrários ao aborto possuem legitimidade e embasamento científicos e que as iniciativas de galvanizar as discussões a partir de perspectivas religiosas ou de gênero nada mais são do que estratégias discursivas habilmente utilizadas, muitas vezes, por defensores da legalização da prática. A finalidade de boa parte dessas pessoas é óbvia: clivar a discussão radicalmente, posicionando-se no pólo aparentemente progressista e humanitário e reservando a seus adversários o incômodo estigma de “fundamentalistas”, “reacionários”, “machistas” e “indiferentes ao sofrimento das mulheres”. Um breve e não-exaustivo exame de alguns dos argumentos do discurso pró-aborto é suficiente para demonstrar uma série de debilidades e incoerências.  
O primeiro argumento (e provavelmente mais comum) produzido pelos defensores da legalização do aborto é o de que a proibição é inútil, uma vez que, a despeito dela, as mulheres continuam e continuarão a recorrer sistematicamente à prática. A proibição beneficia apenas as mulheres com mais poder aquisitivo que possuem condições de pagar clínicas clandestinas, mas confiáveis, enquanto milhares de mulheres mais humildes sofrem todos os anos em verdadeiros “açougues” sem a mínima qualificação e condições de assepsia, arriscando suas próprias vidas. Não há dúvida de que essa é a triste realidade brasileira, mas é correto pensar no aborto como panaceia para corrigir ou atenuar problemas sociais?
O que se deve frisar é que só faz sentido tipificar uma conduta como crime porque ela ocorre. Não faria nenhum sentido prever como crime uma conduta fantasiosa, ou seja, que jamais se produz ou se produzirá no mundo real. A lei não visa eliminar a prática, mas coibi-la. Estendendo-se o argumento da incapacidade latente do Estado brasileiro para combater o aborto para outros crimes, seríamos obrigados a concordar com a legalização de todas as práticas ilícitas (tipos penais) que julgamos que estão sendo insatisfatoriamente enfrentadas pelo Poder Público. Nada disso, porém, significa que não se deva rediscutir a absurda possibilidade de uma mulher que recorreu ao aborto ser condenada a uma pena restritiva de liberdade, na hipótese da prática continuar a ser considerada ilegal. Mulheres que recorrem ao aborto não devem ser tratadas com o rigor de um homicida comum. Muito menos vistas como pessoas que merecem ser retiradas do convívio social. Penas alternativas, com a prestação de serviços à comunidade – em orfanatos e creches, por exemplo –, além de mais humanas, são proporcionais à natureza do ato delituoso.
Outro argumento bastante comum é o de que a decisão sobre praticar ou não o aborto diz respeito exclusivamente à mulher e ao uso que faz de seu próprio corpo. Ocorre que o feto não é um órgão do corpo feminino. Claro, a mulher abriga o feto em seu útero e uma gravidez bem assistida  é indispensável para bom desenvolvimento da gestação, mas o fato de as mulheres engravidarem é uma condição imposta pela natureza. Querer culpar Deus, a natureza ou qualquer outra “entidade” por isso não modificará essa realidade. Mas o fato de serem as mulheres as que engravidam não faz delas senhoras absolutas dos destinos dos fetos. Os fetos não são seus bens. São seus futuros filhos, novos seres humanos em formação. Uma mulher pode se julgar onipotente para decidir o destino do seu filho? Tem o direito de desempenhar esse papel, por mais desamparada que se encontre? E quem detém autoridade para determinar ou sugerir que só podem nascer filhos de mulheres inseridas em um ambiente familiar saudável, maduras psicologicamente e com boa situação financeira? O que há de humanista nessa pretensão, que seria ingênua em seu idealismo, não fosse o autoritarismo subjacente, além da arrogância que encerra por querer legar à mulher a prerrogativa de decidir a priori o destino do seu filho, mesmo que indesejado? Filhos de mulheres pobres estão condenados, após o nascimento, a viver e morrer pobres? E os de mulheres desamparadas ou mães solteiras estão fadados à infelicidade? Nenhum deles merece chances? Quem tem autoridade para negá-las?
Há que se ressalvar que a maior parte das mulheres brasileiras é contrária à legalização do aborto, assim como há muitos homens favoráveis. Portanto, querer enviesar a discussão sobre a legalização do aborto por uma perspectiva litigiosa de gênero é um artifício decorrente de uma mentalidade simplista, preconceituosa e machista, segundo a qual cabe ao homem só se preocupar com o trabalho e sustento da família e as mulheres com a educação dos filhos e a casa. O homem não pode opinar na gestação da mulher ou sua opinião deve ser considerada secundária: é um mero "boi reprodutor". Sim, infelizmente ainda são muito comuns os casos de mães abandonadas por seus companheiros, mas há também pais amorosos (não são tão raros assim) que querem acompanhar com atenção e carinho suas mulheres na gestação (mesmo não planejada) e se dedicar à criação dos filhos que geraram. Na hipótese da mulher decidir abortar e o homem querer criar seu filho porque a voz da mulher deve prevalecer? Vale invocar um argumento biológico para ignorar a voz do pai? Não seria mais generoso então a mãe entregar o filho ao pai para que ele o crie? Nem toda mãe tem vocação materna, é fato. Por que não deixar que a criação fique a cargo do pai? É no mínimo incoerente que mulheres engajadas na legalização do aborto e que se julgam modernas, feministas ou não, recorram, quando lhes aprouve, aos arquétipos masculino e feminino que dizem rejeitar na maior parte do tempo para justificar o primado da mulher sobre o homem quando o que está em jogo é a decisão sobre o destino do filho de ambos.
Finalmente, há ainda o argumento de que os empenhados contra a legalização do aborto são, sem exceção, fundamentalistas religiosos e obscurantistas. Não é difícil encontrar católicos, evangélicos e adeptos de outras religiões favoráveis ao aborto. Assim como há ateus e agnósticos contrários. Portanto, bem como ocorre com a questão de gênero, priorizar a discussão a partir de uma perspectiva religiosa é uma estratégia propositadamente utilizada pelos favoráveis à legalização da prática para viciar, de forma artificial, um tema muito mais complexo e profundo e criar vilanias. Angariar simpatias e apoio da opinião pública é mais fácil quando se polariza um debate entre o “bem” e o “mal”, colocando-se, obviamente, no primeiro pólo. Há que se sublinhar: os que são contrários ao aborto não são, necessariamente, inimigos da mulher e indiferentes aos sofrimentos que muitas delas passam. Pelo contrário, não seria ousadia dizer que a maioria é solidária às mulheres. Só não concorda com que o aborto seja uma resposta aceitável para sanar ou amenizar suas eventuais mazelas.
A discussão sobre a legalização do aborto no Brasil só tem a ganhar se admitido, por todos os lados envolvidos, que o que se deve buscar, antes de tudo, é o equilíbrio sadio entre as dignidades fundamentais da mulher e do feto. Quando a balança deve pender para um ou outro lado? O viés do debate deve ser laico, moral e humanista. Tem a mulher o direito de interromper a gestação, em qualquer situação? Em caso positivo, até qual momento? Mesmo ateus e agnósticos admitem que interromper uma gestação em estado avançado é inadmissível. Deduz-se daí que, independentemente de se professar ou não um credo, se reconhece o valor da vida intra-uterina (ou de parte dela). Em países onde o aborto é universalmente admitido, as leis divergem quanto ao teto máximo para a interrupção da gravidez (embora, em muitos, a 12ª semana de gestação seja o limite estabelecido), o que é um sinal claro de que ainda não há certeza na comunidade científica internacional quanto à fração exata do tempo em que se inicia a vida. O que existe somente é um razoável consenso sobre quando começa a formação do sistema neurológico. Quaisquer inferências a partir daí ainda são problemáticas. Reflitamos, pois, sobre esses e outros pontos, desviando-nos dos sectarismos presentes no caminho, em todas as frentes. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

AS LÁGRIMAS DA PRESIDENTE DILMA



Há poucos dias, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) divulgou, em evento solene em Brasília do qual participou a Presidente Dilma e parentes das vítimas perseguidas pelo regime militar de 1964-1985, o resultado de quase três anos de trabalho: um longo relatório detalhado, com os nomes de 377 agentes de estado apontados como responsáveis e partícipes dos crimes contra humanidade e abusos legais cometidos pela ditadura. Não obstante o mandato da Comissão a obrigasse a tratar do período de 1946 a 1988, foi o período 1964-1985 que mereceu maior atenção, por razões óbvias.  
Em visível estado de comoção, Dilma chorou ao lembrar dos companheiros de luta, mortos, torturados e perseguidos pelos militares. Demonstrou para muitos, naquele momento, uma faceta sensível e humana, pouco conhecida da opinião pública. Mereceu aplausos por parte dos presentes, solidários à demonstração pública de dor e sensibilidade, afastando-se da costumeira imagem de “dama de ferro” ou “gerente da nação”.
Em seu discurso, Dilma procurou, ainda, enfatizar que o objetivo do trabalho desenvolvido pela Comissão não foi o de promover o revanchismo. Em suas palavras, “a busca da verdade histórica é forma de construir democracia e zelar pela sua preservação, Verdade não significa revanchismo e não deve ser motivo para ódio. Verdade liberta, produz consciência, aprendizado, conhecimento e respeito”.
O que, efetivamente, há por trás das lágrimas da Presidente? Seus colaboradores e admiradores se comoveram por conta da humanidade cosmopolita e do espírito universalmente democrático que elas supostamente encerraram. Seus opositores e detratores lhes questionaram a sinceridade.
Os dois lados estão equivocados. O choro da Presidente Dilma foi bastante sincero. Contudo, suas motivações estão bem distantes das causas altruístas e humanitárias que seus correligionários e entusiastas tentaram lhe atribuir.
Dilma chorou por conta de uma esperada e compreensível sensação de empatia e solidariedade em relação aos companheiros tombados, especialmente os que, como ela, estiveram na luta armada.
Dilma chorou em função da frustração, nas mãos dos militares, do projeto político que ela e seus companheiros das organizações Colina e VAR-Palmares tinham para o Brasil: o de transformação do país em uma república socialista, uma ditadura do proletariado, aos moldes castristas, maoístas ou stalinistas.
Dilma chorou pela derrota da utopia que defendia nos anos 60, impregnada de um objetivo tão moralmente superior (promover a justiça social no Brasil) que foi capaz de fazer com que vários grupos pegassem em armas, realizassem atentados, assaltos a bancos, seqüestros de embaixadores, deixando pelo caminho cadáveres de militares como o do soldado Mário Kozel Filho, 18 anos, morto por uma explosão com bomba no Quartel General do II Exército, em São Paulo, ou civis mutilados, como o guarda Sebastião Tomaz de Aquino, o “Paraíba”, ex-jogador de futebol do clube Santa Cruz, que perdeu uma perna em atentado à bomba no Aeroporto dos Guararapes, no Recife. Foram percalços inevitáveis na via nobre de propósitos que os combatentes do regime militar percorriam.
Dilma chorou porque acredita até hoje que estava investida de um mandato digno e divino quando pegou em armas para combater os militares. Quando os insurgentes recorreram às armas foi porque os militares praticamente as colocaram em suas mãos e não deixaram escolha. A vida de nada valia para os militares. Por isso, era preciso seguir a mesma cartilha para fazer-lhes frente. Era necessário matar, seqüestrar, roubar e disseminar o medo, mesmo na população civil. E com tranqüilidade na consciência, pois quando a esquerda pega em armas faz revolução. A esquerda não é golpista nem terrorista.
Talvez Dilma tenha chorado até pelas 126 pessoas mortas pela luta armada, segundo números divulgados recentemente pelos clubes Naval, Militar e da Aeronáutica. Foram mártires inevitáveis, baixas necessárias levadas ao glorioso altar do sacrifício revolucionário, cujas memórias honram as enormes provações pelas quais seus companheiros passaram. E que passam até hoje, como nas perseguições que levaram combativos colegas para a Papuda.
Sim, as lágrimas da Presidente foram sinceras. Obtusos, frios, insensíveis e reacionários são os integrantes da elite oposicionista, aqueles que ousam questionar a humanidade que elas revelaram e cobrar do governo menções expressas e reconhecimentos públicos de supostos erros e excessos que os integrantes da luta armada cometeram. Não sabem esses ignorantes inimigos do povo que a nobreza de propósitos, o furor revolucionário e a crença nas utopias os eximiu para sempre de qualquer responsabilidade ou culpa por seus atos?

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Minha Relação com o Espiritismo

O espiritismo ganha cada vez mais adeptos no Brasil. Sintomática desta realidade, além do elevado número de centros espíritas no país, é a visibilidade que temas como reencarnação e outros recebem nas telenovelas, na produção cinematográfica e, principalmente, na produção literária.

Nada tenho contra o espiritismo, pelo contrário. Admiro a forma com que os espíritas praticam a caridade e a fraternidade. Vejo em Chico Xavier umas das presenças mais iluminadas entre os seres humanos que já habitaram a Terra. Admiro-lhe a generosidade extrema e o amor infinito e desapegado que nutria pelos seres humanos. Tenho diversos amigos espíritas e enxergo neles uma inclinação para a prática da caridade, rara em adeptos de outras religiões, inclusive a minha (católica).

Contudo, como católico que sou e, portanto, pela fé que professo em "uma só vida eterna após a morte", não consigo deixar de me incomodar com determinados aspectos da fé espírita. Esclareço que meu conhecimento sobre o espiritismo é bastante rudimentar. Jamais li Allan Kardec, nem mesmo best sellers como "Violetas na Janela" ou "Nosso Lar". Meu parco conhecimento é resultado das poucas (mas intensas) conversas que já tive com amigos espíritas. Mas o fato é que nenhum desses amigos conseguiu aplacar minha inquietude e meu descontentamento.

O primeiro aspecto que me incomoda em relação ao espiritismo é a noção de karma. Incomoda-me a ideia de que tenhamos que passar por algumas agruras e percalços na vida em razão de um "débito trazido de vidas passadas", de "contas a ajustar" com nossas vivências pretéritas. Parece-me ser uma tentativa vã de conferir um certo ordenamento racional às constantes injustiças de que somos todos os dias testemunhas, como a morte prematura de um criança inocente, por razões de doença ou violência.  Particularmente, considero razoavelmente arrogante a pretensão de encontrar sentido em determinadas coisas cujas razões para terem acontecido acredito que  não nos são dadas a participar e conhecer. Jamais tive a pretensão de querer compreender porque injustiças acontecem, apesar de insistentemente me inconformar com elas. Penso que diante de tristezas e injustiças só a fé em Deus (livre de outros argumentos quaisquer) salva e conforta, nada mais.

Outro aspecto que me deixa particularmente incomodado (e, neste caso, também angustia) é o da reencarnação. Não consigo deixar de achar estranha a perspectiva de que vivamos outras vidas terrenas, sob diferentes gêneros, raças, alcunhas, nacionalidades etc. Da mesma forma, causa-me perplexidade que aqueles que acreditam em algum Deus não concordem que cada um de nós é um ser único e original.

Explico-me. Creio que eu, Carlos Maurício Pires e Albuquerque Ardissone, nascido no Rio de Janeiro, em 1972, sou único e original. Assim como acredito que cada um de nós é.  Deus possui, de acordo com o que acredito, um dom de criação infinita, capaz de gerar mais e mais seres únicos, "irrepetíveis". A vida não é como um jogo de futebol do qual saímos de vez em quando para voltar para o jogo com outro número e outro nome estampados na camisa.

Os espíritas dirão que é o que é único e original é a alma e não minha atual identidade terrena. Mas mesmo assim, é difícil que me convençam de que eu, Carlos Maurício, já atendi por outros nomes em outras vidas.

A ideia se já ter passado por outras vidas, com outras identidades, outros CPFs (rs) e talvez até outro gênero me deixa triste diante do seu fatalismo. Os espíritas tentarão em confortar me dizendo que minha reação é natural diante do apego que tenho pela minha atual vida na Terra. Mas e daí? Qual o mal do apego? Qual o mal que há em gostar de ser quem eu sou e de querer continuar assim para toda a eternidade? Por que essa ideia de aprimoramento da alma por meio de outras vidas tem que me cativar e seduzir? Gosto de ser quem eu sou, de ser filho de quem sou, de ter nascido na família em que nasci e de ter as qualidades e defeitos que tenho. Se um dos objetivos de viver outras vidas é corrigir ou aprender a lidar melhor com meus defeitos, obrigado, mas declino a oferta. Quero continuar com os defeitos que possuo. Não que não lute para lidar melhor com eles, mas penso que a graça da vida está nas imperfeições. Se o paraíso é feito de almas perfeccionistas que querem reencarnar para se tornarem "melhores", deve ser um lugar muito chato. Sei que o que acabo de escrever pode parecer até pecado, mas espero que entendam o sentido do que quis dizer. Será que no paraíso se erra e se pede perdão ou são todos aborrecidamente (e pretensamente) perfeitos ? E se não são, porque buscar tanto o "aprender" e o "aperfeiçoamento"?

Volto ao fatalismo a que me referia. A perspectiva de já ter encontrado ou de um dia vir a encontrar, em outras vidas, pessoas próximas de mim em minha atual vida (e o que é pior, sem ter consciência disso), me entristece profundamente. Não consigo deixar de enxergar como uma "quase tragédia" a possibilidade de meu pai ou da minha mãe terem já se encontrado comigo em outras vidas sem eu saber disso. Isso não me traz nenhum conforto, pelo contrário, só angústia. Se os espíritas estão certos, não consigo deixar de pensar na nossa existência espiritual como uma grande e irônica tragédia. Isto pelo menos para mim, pois não ignoro em absoluto o quanto o espiritismo conforta milhares de pessoas. Poderei eu continuar a ser só o Carlos Maurício para todo o sempre? Não tenho outras escolha se não a de reencarnar e de abdicar desta identidade terrena pela qual tenho apego?






segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Maior Brasileiro de Todos os Tempos

QUEM FOI O MAIOR BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS?
É esta a pergunta que o SBT vem fazendo, por intermédio de seu site (http://www.sbt.com.br/) em promoção divulgada na televisão.Senti-me estimulado a refletir sobre esta questão complexa. Quais os parâmetros para medir a importância de um personagem histórico ou contemporâneo? Quem foi, afinal, o brasileiro mais importante de nossa história?
O que me veio, em primeiro lugar, foi uma palavra: legado. Mas qual o legado realmente importante que se deve levar em conta? O legado político, moral, espiritual? Difícil responder, não?
Cinco nomes foram aqueles em que, de imediato, pensei. Confiei nos meus instintos, me vali desta primeira filtragem e dispensei outras possibilidades. Foram eles: Santos-Dumont, Machado de Assis, Oswaldo Cruz, Dom Pedro II e Tiradentes.
Apesar de sua dimensão inegável como o "Imperador Filósofo", o homem das artes e da ciência, e que governou o Brasil por mais tempo (49 anos) excluí Dom Pedro II em função de não ter logrado ajudar a combater e a abolir, antes de 1888, a escravidão no país (herança social maldita tão criticada por Joaquim Nabuco). Contou também a condenável participação de grande parte das forças militares brasileiras na Guerra do Paraguai (quando a população paraguaia foi praticamente dizimada, incluídas mulheres e crianças), em um combate desproporcional e covarde no qual se destacou a cruel participação de seu cunhado Conde D`eu, chefe militar no final do conflito, após a retirada de Caxias.
Quanto a Tiradentes, sem desprestigiar sua figura de mártir, vários historiadores demonstram que a construção de sua figura mítica está diretamente relacionada ao advento da República e à necessidade do novo regime de buscar heróis que servissem como contraponto à monarquia (afinal, Tiradentes fora morto pelos antepassados da Família Real brasileira). Tiradentes foi, sem dúvida, um mártir, mas não há como deixar de questionar se não foi também um "bode expiatório" por ter sido o único inconfidente enforcado, enquanto a outros, de origem mais "reconhecida" e abastada como Tomás Antônio Gonzaga, foi reservado "apenas" o desterro. Além disso, não podemos olvidar de outros mártires como a freira Ana Néri (assassinada por soldados portugueses durante as Guerras da Independência na Bahia) e os alfaiates da Conjuração Baiana de 1798.
Após descartar Dom Pedro II e Tiradentes, continuei com uma dúvida enorme, agora entre Santos-Dumont, Machado de Assis e Oswaldo Cruz. Neste "pódio particular" reparei que tinha reservado os três primeiros lugares para dois cientistas e um escritor. Machado, por sua qualidade literária, trajetória de vida e origem humilde, dispensa maiores explicações para ter esse lugar de honra reservado. Oswaldo Cruz, por todos avanços que atingiu na área médica e sanitária, e as resistências que sofreu para que suas descobertas fossem convertidas em políticas de saúde pública efetivas e universais também não podia ficar de fora.
Mas foi por Santos-Dumont que acabei por me decidir. Em termos de legado, suas descobertas são, sem dúvida, as de amplitude maior, de mais alcance universal. Por mais que os Estados Unidos insistam nos Irmãos Wright como os "pais da aviação", nós brasileiros sabemos, sem ufanismo, que a Santos-Dumont não pode ser negada, no mínimo, a mesma honria.
Em interessante livro, intitulado "Asas da Loucura", editado há poucos anos, o jornalista norte-americano Paul Hoffmann, resgata a figura de Santos-Dumont e a projeta para fora de nossa fronteiras, por meio de uma comovente apresentação de sua trajetória de vida. Paul Hoffmann assumiu a tarefa de "mostrar" Santos Dumont para os norte-americanos. Entre tantos comentários sensíveis sobre Santos-Dumont, o jornalista reconhece, em seu derradeiro e trágico ato que pôs fim à própria vida por conta de ter descoberto que os aviões haviam se transformado em máquinas de guerra, o clamor de indignação de um último idealista entre os inventores, um homem que, ao contrário dos Wright, jamais revelou intenção de patentear suas invenções e delas extrair benefícios econômicos pessoais. Para quem trabalha com propriedade intelectual, este dualismo entre "Wrights rentistas" e "Dumont romântico" soa idealizado e suspeito (preciso estudar melhor o assunto para ter opinião mais fundamentada) mas, mesmo assim, pelo legado universal, não pude deixar de me decidir por Santos-Dumont.
E vocês? Em quem votam? Suspeito tristemente que, em um país sem memória como o nosso, esses personagens serão pouco lembrados.  Aposto que ganha Pelé, Ayrton Senna ou Lula. Estão abertas as apostas!

P.s: Depois, me lembrei do Barão de Rio Branco (aliás, como professor de Relações Internacionais, como poderia esquecer?), sem quem o Brasil não teria resolvido os conflitos em torno de suas fronteiras de forma pacífica e que foi o maior responsável por fazer do Itamaraty uma instituição de excelência e profissionalismo no exercício da diplomacia do país, com enorme prestígio internacional. Ô escolha difícil!
Ao final, ficou assim meu "ranking":

Ranking:

1-     Santos-Dumont
2-     Machado de Assis
3-     Oswaldo Cruz
4-     Dom Pedro II
5-     Tiradentes
6-     Barão do Rio Branco
7-     Carlos Chagas
8-     Irmã Dulce
9-     Villa-Lobos
10- Ayrton Senna

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"O Brasil e o Oscar"

Na última segunda-feira à noite, realizou-me mais uma edição (a 84a) da festa de entrega do Oscar. Como já aconteceu em outras oportunidades, a imprensa brasileira mobilizou-se em face da possibilidade de um brasileiro "arrebatar" a famosa estatueta. A "bola da vez", no caso, eram os músicos Sérgio Mendes e Carlinhos Brown que concorriam com a música "Real in Rio" (da animação "Rio") ao Oscar de melhor música original.

A música concorrente pertencia à trilha sonora do último filme dos Muppets. Logo no ínicio da transmissão, a participação do sapo Caco e da porquinha Piggy na cerimônia era um forte indicativo de que, mais uma vez, os brasileiros não ganhariam o prêmio. Veio a minha mente a presença de Sophia Loren na entrega do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1999, quando "A Vida é Bela", de Roberto Benigni, derrotou "Central do Brasil" de Walter Salles. Aquele grito de "Roberto!", quando a eterna musa italiana anunciou o resultado, ecoa até hoje na mente dos que assistiram àquela transmissão. Em muitas oportunidades, a  Academia dá sinais de quem são os seus preferidos. Isto ocorre nos dias que antecedem a cerimônia e também, na prória cerimônia, antes mesmos das estatuetas serem entregues.

O Oscar é, acima de tudo, uma festa que os americanos organizam para celebrar o seu próprio cinema. Ocasionalmente, britânicos e outros europeus e alguns latinos radicados nos Estados Unidos recebem o green card e são admitidos na festa. Neste ano, o filme "O Artista" ganhou os principais prêmios. "O Artista" celebra o cinema antigo, dos anos 20/30, época da transição do cinema mudo para o falado. Mas não é uma celebração de qualquer cinema. É uma homenagem ao cinema de Hollywood. O discurso de agradecimento do Diretor Michel Hazanavicius, com fartos elogios aos Estados Unidos e a Billy Wilder (um dos maiores diretores norte-americanos), não deixa dúvidas de que um dos objetivos a ser atingido por "O Artista" era massagear o ego de Hollywood. Não questiona-se aqui  a qualidade da filme, mas apenas expõe-se sua estratégia de aceitação.

Curiosamente, outro filme de celebração ao cinema, "A Invenção de Hugo Cabret" (do meu ponto de vista, superior em todos os aspectos a 'O Artista'), ficou apenas com os prêmios técnicos, mesmo sendo dirigido por um diretor norte-americano, o mestre Martin Scorcese. No caso de Hugo Cabret, no entanto, o cenário é a Paris dos anos 30 e uma das figuras centrais da história o diretor francês Georges Méliès, um dos grandes pioneiros do cinema. Entre premiar a celebração de Hollywood, por um diretor europeu, ou a celebração do pioneirismo francês no cinema, por um diretor um norte-americano (ou "ítalo-americano"), a Academia ficou com a primeira opção.

Voltando ao Brasil, parece-me que, por vezes, os sinais que a Academia dá todos os anos não são apropriadamente lidos pelos responsáveis pela escolha da produção que postulará uma indicação a melhor filme estrangeiro. A outra alternativa é a de que, a despeito desse sinais, tais especialistas, querendo mostrar "independência" em relação aos norte-americanos e ao que pensam e gostam, ignoram aqueles.

Ora, nada mais contraditório e inútil em termos de dispêndio de esforço e mobilização midiática e da opinião pública. Se fazemos tanta questão de concorrer (e de concorrer para ganhar), que tal darmos um pouco mais de atenção ao que os velhinhos da Academia querem e desejam? Por que escolher filmes com perfil inapropriado para concorrer ao Oscar?

Nas última três oportunidades em que concorremos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, indicamos ou filmes que possuem temáticas universais ou filmes que, do ponto de vista político, interessaram diretamente aos norte-americanos.

No caso de "O Quatrilho" e "Central do Brasil", embora o cenário fosse a Terra de Vera Cruz, os dramas vividos pelos personagens eram comuns a todos os seres humanos. Em "O Quatrilho", a história é a de um casal de colonos italianos do sul, forçados a ter que começar uma vida juntos após serem abandonados por seus respectivos cônjuges. O filme mostra como um amor pode nascer "artificalmente" a partir de circusntâncias dramáticas. Em "Central do Brasil", emocionamo-nos com a busca do menino órfão de mãe por seu pai desconhecido, no sertão do país, auxiliado por uma professora primária amargurada que redescobre na criança o sentido de amizade e de maternidade. Finalmente, "O que é isso Companheiro?" trouxe no roteiro um fato que imediamente cativou a audiência dos norte-americanos: o sequestro de seu enbaixador por guerrilheiros brasileiros, durante a ditadura militar em nosso país.

Vale ainda citar o cultuado "Cidade de Deus', um fenômeno à parte por ter sido indicado diretamente na categoria de melhor filme. Mas é uma daquelas exceções que confirmam a regra. Em "Cidade De Deus" foi principamente o aspecto estético da direção hábil e fortememente ritmada de Fernando Meireles o fator responsável pelas quatro indcações que o filme recebeu. Fernando Meireles, assim,  carimbou seu passaporte para filmar no exterior desde então.

Nos últimos anos, os encarregados de indicar os filmes brasileiros que lutam por uma indicação ao Oscar parecem ter ignorado a fórmula indispensável no momento da escolha que é a da "temática universal" e/ou  do "apelo político" junto à opinião pública norte-americana.  Indicaram "Lula, o Filho do Brasil" no ano passado, superestimando um apelo político que o filme não possuía. Ingenuamente, acreditaram que o passado pobre do Presidente Lula comoveria a Academia. Com "Tropa de Elite 2", ancorados no estrondoso sucesso de público das aventuras e desventuras do Capitão Nascimento na tentativa de desbaratar milícias nos Rio de Janeiro, subestimaram a "localidade" do tema das milícias e também que thriller policiais sobre tiras corruptos são um dos mais tradicionais "carros-chefes" ou "chavões" da indústria de filmes nos Estados Unidos.

Vejamos se, no próximo ano, os que têm a atribuição de escolher o filme brasileiro que tentará uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro atentam para essas experiências bem e mal sucedidas e voltam a escolher um representante com apelo dramático universal ou apelo político junto aos norte-americanos. Meu voto, desde já, fica  para "O Palhaço", de Selton Mello. O filme sobre o artista de circo que questiona sua vocação e que precisa afastar-se do que faz para reencontrar o amor ao seu ofício  é de delicadeza e singela capazes de emocionar cambojanos, paquistaneses, alemães, japoneses, norte-americanos, enfim, todos que guardam um sentido de humanidade dentro de si. Não precisamos de indiçações ao Oscar ou do carimbo de aprovação de Hollywood para estarmos cientes da qualidade do nosso cinema, mas se insistimos em indicar filmes para concorrer à estatueta, façamos isso, ao menos, criteriosamente. Leiamos os sinais de Hollywood.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Macartismo tupiniquim

Em meio aos inúmeros (e ainda tímidos) protestos que se espalharam ontem pelo Brasil contra a corrupção, me senti estimulado a escrever sobre tema correlato: o preço da honestidade em nosso país.

Referindo-me especificamente à Administração Pública, vivemos em um país onde a honestidade pode custar caro, principalmente para aqueles que ocupam (ou ocuparam) altos cargos com poder decisório devido a critérios de competência, que não são políticos e que agem (ou agiram) única e exclusivamente pensando no bem comum da sociedade.

Os vícios  congênitos que envolvem nossa complexa burocracia pública são tamanhos que, em muitas situações, exigir dos que estão no "topo da pirâmide" em termos decisórios que respondam pelos atos de todos que estão sob sua autoridade hierárquica pode ser injusto. É preciso examinar caso a caso, ser criterioso, porque muitas vezes uma simples assinatura não pode ser interpretada como um inquestionável ato de conivência com alguma improbidade cometida por algum subordinado.

Conheço histórias de pessoas probas que sempre agiram dentro dos mais elevados padrões de decência, que nunca cometeram um ato de corrupção e mantém até hoje um modesto padrão de vida (comparado ao que certamente teriam se fossem de fato corruptas). Mesmo assim, passaram anos de suas vidas tendo que prestar esclarecimentos e mais esclarecimentos aos órgãos fiscalizadores das diferentes esferas governamentais, como se fossem desonestas e criminosas.

Por serem pessoas com escrúpulos, esmeraram-se em se defender, conseguiram provar sua inocência e a não-participação em nenhum ato de improbidade, mas, por outro lado, ganharam mais cabelos brancos, além de doenças, tal o grau de aborrecimento ocasionado por aquelas suspeitas que, ao final, se mostraram infundadas.

Enquanto vários políticos agem sob o manto da impunidade, pessoas honestas são perseguidas implacavelmente, fragilizadas por darem valor às suas consciências e por não possuírem apadrinhamentos. São justamente as escolhidas para prestar contas porque - sabe-se - estarão empenhadas em provar sua inocência.

E assim la nave va. Vivemos sob a égide deste "macartismo tupiniquim" que persegue sistematicamente muitas pessoas que nada mais fizeram do que cumprir seu dever da melhor forma, enquanto os verdadeiros piratas do dinheiro público atuam à vontade, tendo apenas que suportar raros momentos de mobilização midiática e popular, com parcos reveses concretos (Cacciola já está livre!).

Imagem: http://carzem.blogspot.com/2009_01_01_archive.html.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Em crise com Nelson Rodrigues

O ano de 2012 será marcado pelas comemorações dos cem anos da data de nascimento de Nelson Rodrigues, nosso brilhante dramaturgo, cronista e jornalista.

Tenho uma posição de extrema admiração por Nelson desde que, ainda na adolescência, li suas crônicas da "Vida Como Ela é". Além disso, li alguns de seus romances como "O Casamento" e "Engraçadinha: seus amores e seus pecados". Assisti também as inúmeras adaptações de algumas de suas obras para o cinema como "Os Sete Gatinhos", "Perdoa-me por me Traíres" e "Bonitinha, mas Ordinária" (este último aliás, deverá ser lançado novamente na tela grande no ano que vem, em nova versão dirigida por Moacyr Goés).

Além de tudo isso, contribuiu também para aumentar minha simpatia por Nelson o fato de ter sido um grande tricolor, autor de crônicas esportivas épicas e de frases antológicas como "O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade..tudo pode passar..só o tricolor não passará jamais". Personagens míticos do mundo futebolístico como o "Sobrenatural de Almeida" também povoaram as crônicas inesquecíveis.

Apesar de ainda admirar Nelson profundamente, nos últimos tempos venho passando por um processo de "revisionismo" da percepção que tenho de sua obra.

Apreciava, e sigo apreciando, a forma como Nelson expõe de forma despudorada a miséria, a sordidez e perversão humanas, as hipocresias e os falsos moralismos e conversadorismos da pequena classe média carioca, especialmente a suburbana. Apesar de sua obra retratar o comportamento sócio-cultural do Rio dos anos 50/60/70, sua universalidade é óbvia. O histrionismo doentio-sexual de alguns de seus personagens tende a revelar muito do lado obscuro dos homens.

Por outro lado, o fato de ainda querer acreditar na pureza do coração humano e na existência de pessoas bem intencionadas (não falo de ingenuidade) me levou a questionar se a maldade latente na obra de Nelson não se tornou, em algum momento, nociva para mim, estimulando-me a enxergar cinismo e malícia em tudo.

Explico-me melhor. Esforço-me para acreditar que o comportamento descarado, despudorado, perverso, doentio, hipócrita que marcam muitos dos personagens de Nelson são somente manifestações literárias e caricatas de um autor provocador, mas não uma forma lógica, racional e aceitável de definir o complexo comportamento humano, em sua generalidade. Quero crer que nem todos (muito menos a maioria) agem de forma cínica e maldosa. Intencionalmente, busco um pouco mais de ingenuidade e pureza nas pessoas e no mundo. A maldade em Nelson me faz desacreditar no homem ou, pior, me incentiva a aceitar que a sordidez é algo natural, uma propensão congênita em cada um de nós. Ainda quero sustentar esperança em valores como desapego, desinteresse e doação..serão eles meros desvios ou ficções?

Espero sinceramente que não. Que a Nelson siga reservado seu merecido espaço no "Olimpo" da dramaturgia brasileira, mas sem necessariamente elevar a sua obra à categoria de um "tratado psicológico" definitivo do comportamento humano. Sem julgamentos puritanos e moralistas, quero crer que podemos mais que os personagens de Nelson, não podemos?